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Eleições da paz?

Eleitores relatam menos brigas em grupos de família do WhatsApp do que em 2018

Familiares tentam driblar atritos. Especialista cita que saída de grupos "não é encontrar um ponto de maior paz ..."

Publicado em 10/11/2020 às 21:56

Grupos de família têm menos brigas do que 2018, mas proibição de tema e fuga do WhatsApp estão em alta durante eleições municipais (Foto: Celso Tavares/G1)

Após uma eleição marcada por muitos atritos em grupos de amigos e familiares em 2018, uma nova ida às urnas se aproxima. Mas, aparentemente, as eleições municipais chegaram em contexto mais amistoso – ao menos nas redes sociais.

Em 2020, as rivalidades municipais são menos passionais e o resultado pode ser visto nas redes sociais. Tanto que o citado "briga no grupo da família", neste ano, teve grande alta apenas em março. O mês marcou o início da pandemia de coronavírus no Brasil, quando as políticas de saúde do governo Bolsonaro também começaram a ser discutidas.

Também em março, houve pico no termo "saí do grupo da família". Mas, diferentemente dos relatos sobre brigas, os comentários de fuga dos grupos continuaram em alta ao longo dos meses seguintes. Em 2018, o pico foi verificado apenas às vésperas da votação.

Veja o número de menções aos termos exatos "briga no grupo da família" no Twitter em 2018 e 2020 — Foto: Amanda Paes/Arte G1

Veja o número de menções aos termos exatos "saí do grupo da família" no Twitter em 2018 e 2020 — Foto: Amanda Paes/Arte G1

"Não é que diminuiu o clima hostil, mas diminuiu o fogo da fervura política, de um lado. E, de outro lado, as pessoas não estão brigando. Não porque acharam algo melhor pra fazer, mas porque estão simplesmente cancelando umas às outras, um mecanismo muito primitivo, muito narcísico de lidar com diferença, infelizmente", aponta Pedro de Santi, psicanalista e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), sobre a fuga dos grupos de WhatsApp.

"Sair do grupo de família não é encontrar um ponto de maior paz. Pelo contrário. É algo mais primitivo, algo mais lamentável. É simplesmente eliminar o contato com quem pensa diferente", afirma o professor.

Segundo De Santi, os algoritmos das redes sociais fazem um filtro, e as pessoas acabam recebendo apenas conteúdos semelhantes aos pensamentos delas, criando uma bolha.

"Quando a gente se encontra com alguém que pensa diferente da gente, a gente toma um susto muito grande", diz. "As mídias sociais têm criado mais bolhas de opiniões fechadas. E têm deseducado a gente para conviver com conflito e com democracia."

Arrependimento ou despolarização?

Para Pedro de Santi, da ESPM, as mudanças de postura não são consequência direta de arrependimento com relação às brigas de 2018. De acordo com ele, trata-se mais de "desidealização dos polos" políticos, que "produziram um enfraquecimento relativo no clima hostil que movimentou aquelas eleições de dois anos atrás".

"Não acho que tenha havido um amadurecimento, não – infelizmente, não. O que houve foi uma intensidade menor do ambiente. O ambiente está menos intenso, e isso gera uma civilidade um pouquinho melhor, um nível de briga um pouquinho diminuído. Não acho que seja uma eleição de mais paz, mas de emoções mais brandas. É diferente."

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